Eis aqui um novo tema a ser tratado no blog Futebol Europeu: Jogos Inesquecíveis. Todo torcedor de verdade tem uma história do passado para contar. E só pelo fato de lembrar de uma partida emocionante, o coração consequentemente bate mais forte. Contar para o pessoal da nova geração o que você vivenciou, o que você viu, o que você sabe passar de interessante sobre algum momento futebolístico que ocorreu tempos atrás... sem sombra de dúvidas, é muito gratificante.

Nada mais justo do que começar esse novo tema relatando um dos maiores, se não for o maior, jogo de uma final de UEFA Champions League. Trata-se da temporada 2004-05, um tradicionalíssimo confronto, entre Liverpool e Milan.



Imagem nostálgica: Nesta (de branco), observando Steven Gerrard cabecar a bola.


Istambul, Turquia, 25 de maio de 2005. Mais uma final de UEFA Champions League. Milan x Liverpool, ambos na época somavam 10 Ligas dos Campeões. 70.024 espectadores, que mal esperavam o espetáculo que estaria por vir.

O Liverpool tinha como treinador Rafa Benítez. Vindo de uma ótima passagem pelo Valencia, surpreendeu a todos, levando a equipe inglesa pela sexta vez ao maior campeonato de expressão continental, em sua primeira temporada no comando. Os Reds, vindos de uma pífia campanha na Premier League e um razoável vice-campeonato na Carling Cup (perdendo para o Chelsea), precisavam de alguma maneira "salvar" a temporada. Para chegar à final da Champions, o Liverpool deu o troco nos Blues, do invencível José Mourinho.

Por outro lado, o Milan, de Carlo Ancelloti, conseguiu o segundo lugar na Serie A, ficando atrás da Juventus. Mas em 2006, foi descoberto que no campeonato ocorreu o Calciopoliou seja, um esquema de manipulação de resultados. Por fim, o título não foi atribuído a nenhuma equipe, e o Campeonato Italiano de 2004-05 foi considerado anulado.


Os 11 jogadores iniciais de ambas as equipes.

O jogo

O favoritismo era maior por parte dos rossoneri. Possuía um elenco mais forte e mais experiente. Como esperado por muitos, eles dominaram o primeiro tempo, ganhando todas as bolas no meio de campo. O trio Gattuso-Pirlo-Seedorf bloqueava qualquer tentativa de ataque inglês, e distribuía passes açucarados para o mais avançado Kaká, vivendo uma época incrível. Logo no primeiro minuto de partida, o próprio Kaká abriu o caminho para o primeiro gol da partida, após sofrer falta de Traoré. Pirlo cobra em direção a marca do pênalti, e o capitão Paolo Maldini, desbancando Xabi Alonso, abre a vantagem.

Foi a conta do Liverpool se desestruturar. Começou a errar cada mais vez os passes curtos, sem contar o mau posicionamento da linha defensiva. Isso aumentava as esperanças do Milan, que estava soberano no jogo, criando diversas chances, até que os 38 minutos o segundo gol saiu. Kaká inicia a jogada tocando para Shevchenko. O ucraniano, observando a "brecha" de Traoré, passa para Hernán Crespo marcar. Cinco minutos depois, o centroavante argentino faz o terceiro, após passe de Kaká. Crespo deixa Carragher para trás e finaliza, na saída de Dudek. 3x0, e o Liverpool parecia não ter entrado em campo. Time irreconhecível.


Final de primeiro tempo. Primeiros 45 minutos resumidos em poucas palavras: Jogo de uma equipe só.

A redenção vermelha

Antes de voltar para a segunda etapa, ficou mais do que evidente de que Rafa Benítez precisava fazer drásticas mudanças em seu time. Liverpool já não podia mais contar com a presença de Kewell, lesionado. Em seu lugar entrou Smicer. Finnan, que não estava em um bom dia, foi substituído por Hamann. Após a troca de um lateral por um volante, o Liverpool mudou seu esquema tático para 3-4-2-1, o que não foi muito aprovado pelos torcedores do Reds. Benítez parecia estar armando um time mais defensivo ainda, com medo de se expor ao ataque. Mas as alterações começaram a surgir um grande efeito.

Nem o torcedor mais otimista do Liverpool acreditava em uma reação tão surpreendente. Já aos 9 minutos de jogo, Riise, que passou de lateral para meia, faz um lançamento na medida para Gerrard, totalmente livre, que só teve o trabalho de cabecear e mandar para o fundo das redes. Aos 11, a bola passou pelos pés da nova linha de quatro meias formada por Benítez: Riise, Xabi Alonso, Hamann e Smicer, que concluiu em um chute de fora da área. Dois gols em dois minutos, e a equipe rossoneri não conseguiu esboçar reação. A partir de então só dava Liverpool, o nervosismo se transferiu e passou a tomar conta da equipe de Ancelloti. Eles realmente sentiram o golpe. 

Animado com os dois gols relâmpagos, os Reds foram para cima, e os 15 minutos, Baros conduz a bola em velocidade e dá assistência para Gerrard, que é derrubado por Gattuso dentro da área. Pênalti para o Liverpool! Xabi Alonso cobra e Dida defende, porém, dando direito ao rebote. O volante espanhol não perdoou e igualou o placar. O que parecia impossível, tornou-se realidade! Festa inglesa no Estádio Olímpico Aratürk. Após o belo empate, os ânimos foram se acalmando, e o Milan conseguiu se recompôr. Dudek conseguiu se redimir dos três gols sofridos nos 45 minutos iniciais, e segurou o empate até o segundo tempo da prorrogação, levando o duelo para a dramática cobrança de pênaltis.

"O que parecia impossível, tornou-se realidade"

Não há mais argumento o suficiente para expressar a história desse confronto. O resumo dos 90 minutos e das cobranças de pênalti, você pode conferir abaixo, neste emocionante vídeo. Relembre lances marcantes e tudo aquilo que SÓ o futebol consegue nos proporcionar.




Detalhes do Confronto

Liverpool FC 3 (3) x (2) 3 AC Milan
Data: 25/05/2005
Local: Estádio Olímpico Anatürk, Istambul
Público: 70.024
Árbitro: Manuel Mejuto González-ESP

Liverpool: Dudek; Finnan (Hamann), Carragher, Hyypiä e Traoré; Xabi Alonso, Luis Garcia, Gerrard, Riise, e Kewell (Smicer); Baroš (Cissé). Técnico: Rafael Benítez.

Milan: Dida; Cafu, Stam, Nesta e Maldini; Pirlo, Gattuso (Rui Costa), Seedorf (Serginho) e Kaká; Shevchenko e Crespo (Tomasson). Técnico: Carlo Ancelloti.

Gols: Maldini, a 1'; Crespo aos 39' e 44'; Gerrard, aos 54'; Smicer, aos 56'; Xabi Alonso (pen), aos 60'.
Penalidades: Hamann, Cissé e Smicer (para o Liverpool); Tomasson e Kaká (para o Milan).

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